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A humanidade e o tempo em que vivemos - por Flavio Siqueira
28/02/2020 17:08 em Textos

Nos últimos 20 anos a humanidade ganhou infinitas possibilidades de se comunicar.
É como se uma janela tivesse sido aberta e, por ela, todos gritam o que antes mantinham restrito ao cubículo sem aberturas.
Toda revolução tecnologia rapidamente é apropriada pelo espirito do consumo, que se apressará em tornar a novidade em um ativo que gere muito lucro.
Mais do que isso: revolução de tamanha proporção jamais passaria ilesa pelos poderes que do seu jeito, adaptados a uma nova linguagem, trabalharão para criar uma infalível  ferramenta de manipulação das massas.
Empresas de comunicação, bancos, publicidade, políticos e religiosos estão entre os poderes que precisam das massas.
A massa não pensa, mas fala. Fala muito.
A somatória de falas vira ruído. Muitos ruídos e poucas ideias.
Quanto mais nos distraímos em nossos ruídos, mais raivosos e territoriais e menos abertos ao pensamento.
Ruídos de mais,  ideias de menos, ainda que esteticamente inovações aconteçam. Mas são estéticas e não representam novos conteúdos.
Para quem quiser desenvolver ideias (e se aprofundar nelas), será fundamental deixar de se impressionar com as gritarias (incentivadas o tempo todo) e, com calma, enxergar o espírito que as motiva.
Então perceberá que trata-se dos mesmos movimentos instintivos e rudimentares que sempre fizeram parte de nossa convivência animal, como poder, como marcação de território, como medo.
A verdade tão buscada provavelmente não será encontrada na somatória de ideias. Talvez ela seja parcialmente percebida diante da capacidade de aquietar-se e desenvolver uma linguagem superior, que não se apoie em recursos retóricos apenas, mas que principalmente seja conectada a atitudes diárias de humildade (e reconhecimento de não saber) , de solidariedade e de entendimento expandido sobre a experiencia humana na terra.
Não se apoiará apenas em evidencias cientificas, por saber que a ciência é uma linguagem restrita, mas evoluirá com seus movimentos e descobertas.
Não reclamará nenhuma religião como superior por entender que a espiritualidade é apenas uma tentativa de expressar o mistério que nos cerca e nos habita e, por isso mesmo, jamais traduzirá a contento o incognoscível.
Valorizará a experiência política como atos cotidianos que objetivam o bem estar comum enxergando seus representantes como porta vozes de um anseio maior e nunca como monarcas ungidos por deus.
Tentará valorizar o sentir, tanto quanto o pensar, atentos para a multiplicidade de comunicação que não vem apenas das tecnologias, mas do corpo, dos animais, da natureza, da rica experiência de compartilharmos um pequeno planeta que boia no meio do infinito.
Nesse ambiente de hiper comunicação, onde a era da pós verdade assume o imenso poder das narrativas ocas e tendenciosas, é urgente deixarmos de nos seduzir pelas muitas vozes (ruídos) e humildemente retomemos a consciência que, em matéria de desenvolvimento e sabedoria, continuamos como meros aprendizes.

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