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Somos fisgados pela dor - Por Flavio Siqueira
14/06/2020 21:33 em Textos

Não buscamos justiça.
É o ódio que nos une quase sempre.
Aglutina-se tocando a ferida e apertando com violência até que saia pus. Aperta-se muito, muito!
O pus vaza, espalha sangue, raiva, ensandece as massas com suas tantas cicatrizes. Vociferam! Urram!
Descreio das causas que se alimentam do ódio, não importa os nomes que ganhem.
Sementes de ódio (em nome de justiça) produzirão frutos correspondentes.
É a guerra que nos une.
Nós, que precisamos de inimigos comuns que justifiquem a existência de nossos falsos semi deuses.
Nós, que buscamos a cura das dores no grito, no soco, na violência, na ilusão de que somos o bem combatendo o mal.
Não queremos nos enxergar! Não podemos.
Precisamos angustiadamente do mal, muito mais do que seria confortável admitir.
Nós e nossas guerras santas. Nós que sempre temos razão, que recusamos que somos maus também e, por isso mesmo, vivemos em busca de uma causa que justifique o imenso desconforto de existir. Negaremos com toda nossa força!
Temos medo e combatemos nosso medo no outro.
Os que nos manipulam nos oferecem as justificativas.
Eles estão acima disso. Só observam, só alimentam.
Fisgados em nossas feridas, nos movemos com punho em riste, bandeira enrolada, bordão na ponta da língua e hashtag nas redes sociais.
Não queremos a cura.
A cura nos tornaria livres.
A liberdade nos assusta.
Tudo o que queremos é algo que justifique nossas correntes, nosso medo, nossa dor.
E então o ódio nos aglutina e os inimigos nos une.

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